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09 dezembro, 2012


dia a dia
eu a afasto

não tomo refri
café só pela manhã
não lhe dou trela
finjo que não vi

meus olhos
detém o pulsar
da vida 

25 novembro, 2012


teço a vida em árduos pedaços
pesado silêncio
dilacera minhas mãos
em gestos bruscos de arrancar pedras

liberto o veio que corre a seiva 


22 setembro, 2012


quando transbordo 
faço poema
ancoro as palavras
no papel

quando vazia
colho os excessos alheios
borboleteando
nas pétalas do girassol

de quando em quando
respiro

01 setembro, 2012


ah... quando nada mais resta
quando as palavras estão gastas
e o poente só é bonito de se ver
porque no papel se faz pedante

tenho um compromisso com as flores
uma necessidade de mimá-las
e um desejo intenso de ser imortal


(para Marisete Zanon)

25 julho, 2012


quando tudo vai errado
não há remendo que dá jeito
acontecimentos do passado
melhor mesmo é ser desfeito

então o caos é necessário
para tal desconstrução
lutam entre si os contrários
e que vença a melhor razão

assim construímos a história
e a nossa própria relação

13 julho, 2012



minha alma adormeceu as palavras no vazio
e silenciosamente alimenta-se da poesia
que há nas flores

dê-me um único sentimento
que dele farei o mais profundo dos poema

06 julho, 2012

o dia amanheceu noite
acordei sem querer sair da cama
um dos meninos deixaram a torneira pingando
o padeiro tá passando na rua, mas quem quer comer
os sons diurnos me deixam cada vez mais sonolenta
chá de alecrim tem fama de dar alegria
será, meu Deus?

01 julho, 2012


acordei-me pedra na chuva. olhos de lodo semiabertos
inerte. envolta em pingos e um soco no estômago
sou pedra em  meio a chuva. no meio da vida
nada retenho. a  vida passa e  me leva
aos poucos me leva


18 maio, 2012


nem sempre é assim
nem sempre escuridão
silêncio e ranço

nem sempre feras
com garras afiadas
esbofeteando o nada

nem sempre demônios
no  teto do quarto
guardando a noite

há momentos de santidade
uma candura que só acontece
quando resolvo amar

27 abril, 2012


esse silêncio de colher auroras
e atravessar o dia entre flores e pedras
ah! esse silencio de boca da noite 
silêncio, às vezes, é cárcere de dor
de entardecer-se com a alma despida
pela distância e o desafeto

14 abril, 2012


naquele domingo estavas certo sobre o odor em  suas mãos
aquele demônio vermelho ainda gruda na parede do quarto
a menina prende os cigarras na gaiola vazia do passarinho
e a tarde sonora de verão abre o céu num livro de figuras

a vida pulsa entre felizes deslumbramentos e medos
sensações invadiram sua vida e cegou  seus sentidos
quando abriu o olhos - cobras afagavam seu pescoço
sombras  saiam dos telhados como negras sepulturas

a nódoa em seus dedos pasma a  assustadora predição
do aroma que naquele domingo inalava em suas mãos

09 abril, 2012



sob um céu escuro de nuvens roxas
lardeado por flashes vermelhos
ora um, ora vários, que lembram
um céu de réveillon. sem som

as árvores que entremeiam a avenida
emanam um cheiro quieto de suas folhas mudas
misturado ao agonizante odor de fezes e urina
das mornas calçadas sem palavras

a pouca brisa traz alguns chuviscos
em minhas orelhas e pescoço
tudo seria silêncio. não fossem as buzinas
e essa gargalhada amarelejando 

08 abril, 2012


não há arrebol que me cubra de luz
não há tarde que deite um  crepúsculo
uma estranheza  se entranha em mim

vago meus olhos nesse mar imenso
num presságio de que vão desaguar

05 abril, 2012

não demora
estou indo embora
já falei
não me peça
para sofrer além da medida
não demora nada
vou-me embora

se você quiser
pode me pedir para ficar
mas vai ter que me olhar
e precisa colher as jabuticabas
as duas jabuticabeiras que plantei
estão carregadinhas de frutos
e você nem liga

                                       ( para Dr. Mario)

31 março, 2012


distraí-me nesse silêncio
cicioso da brisa nas folhas
dos passos do passarinho
intrépidos na grama seca

quando a gente se distraí
tudo torna esquecimento
hoje eu quase te esqueci

23 março, 2012

Outono


rubro
nas letras
do nome

no sol
poente

nos frutos
maduros

nas folhas
que caem

vermelha estação
que se descortina
a baloiçar na renda
de minha cortina

20 março, 2012


em breve terás o mar em meus olhos
ando,  esses dias, espantando o medo
juntando coragem e o tal desapego

em breve terei um vazio em meu colo
as mãos abanando ao sabor da brisa
rumo  ao horizonte que longe matiza

18 março, 2012


quando o inverno secar sua boca
talvez, eu nem chegue à primavera
quando de manhã sozinha à mesa
com uma xícara de café 
se fizerem ausentes suas palavras
a sombra da tarde se estenderá
levando a pouca luz que me aquece

quando o inverno secar sua boca
o silêncio se perpetuará em distância
e talvez  ... eu nem chegue à primavera

12 março, 2012


louca insensatez
prender-me
em silêncios
tão ruidosos
em minha mente
que meus olhos
gritam feito boca

louca insensatez
fechar minha boca
a poesia passeia
dentro do meu corpo
grafa-se em minha tez

e tanta
                           tanta
que quase

                 morro louca

04 março, 2012

puta
na rua
sob o manto da lua

faz vergonhas
às minhas vaidades

um galo
canta nervoso
espanta obscenidades




26 fevereiro, 2012

o tempo que passou por aqui não trouxe flores
só ha rumores de desolação nesses tijolos
mãos abanando de encardidos vazios
olhos perdidos na escuridão do fim
tragam-me um apenas  girassol
e ele se curvará grato
à réstia de luz


25 fevereiro, 2012


quando
o estranho
o diferente
invade a normalidade
causa-me espanto
o espanto que isso causa

12 fevereiro, 2012

O sol de outras bocas

tava quieto em casa
tive que sair
pra comprar um abajur amarelo
não encontrei nenhum abajur amarelo
tem que ser amarelo
clareia a casa toda


o menino já se arrancou
não quis ficar até o fim, não
os dois meninos de minha mãe se arrancaram
eu fico dentro de casa, fazer o quê
estraguei as vistas dentro de casa
os dentes apodreceram dentro de casa


amanhã vou pra cidade
procurar um abajur
tem que ser amarelo
luz branca também não tem aqui
luz branca no abajur amarelo
clareia a casa toda

04 fevereiro, 2012

Tempo


ouço o sussurro da garoa
o assobio do vento
e ouço teus passos,  tempo

deixa essa noite aí fora
vem pertinho...sem demora
vem dormir na minha cama
escuta este que te chama

deixa lá a chuva e o vento
para um infinito momento
não há melhor acalento

se eu pudesse te prender
nesse quarto para sempre
eternamente poderia viver

23 janeiro, 2012

21 janeiro, 2012


excita-me as entrelinhas de tua boca
que professam versos de indizíveis lampejos
meu ego se exalta na esperança louca
de que  são meus os versos teus

20 janeiro, 2012

meu coração nada num rio imenso
de tanto eu chorar por dentro
nas lágrimas que eu dissimulo
nadam também, sapos que engulo

19 janeiro, 2012

hoje acordei pedra molhada
escorregadia de verde limbo
de todos os cheiros -impregnada-
de vida inteira


16 janeiro, 2012




várias bocas gritam dentro de mim
faço um silêncio de palavras mudas
segredando inocências e culpas
sou várias
                                      enfim

vozes que se confundem numa só
causam em mim um abismo sem fim
sou pai
                   sou mãe
                                            sou avó
 sou só várias em mim
querendo ser só


08 janeiro, 2012

Ânimos

desaguei no oceano
renasci na maré alta
beijei a boca  do sol
a vida
            agora
                     é farta

06 janeiro, 2012


quando a morte
em nós
instala sua semente
a vida é só
contemplação


01 janeiro, 2012

O dia primeiro


chuva generosa
lava a calçada nua

o corpo
dentro de casa
espera
não ousa
sair na rua

nada se interrompeu
nem esvaziou

não é preciso
recarregar
reiniciar

espera

pesado e cheio
como pedras
na chuva