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26 junho, 2018

há uma distância entre mim e as coisas
sempre haverá está distância que parece ser de vida adiada
de dias que deixo de caminhar sobre as pedras e não tomo o sol em minhas mãos
sei bem que me deram o sol
mas há também uma distância de dias parados na sombra
de palavras encolhidas na barriga e por mais que eu tente gritar
tudo permanece parado em névoas acinzentadas
sei bem que me deram o sol
mas há uma distância entre mim e as coisas como brinquedos guardados no alto do guarda-roupa
serei eu a escrever nas sombras sobras de dias contados. somente sementes infrutíferas semeadas aos escombros do caos de um corpo que escorre esguio em meio a densa escuridão da noite. serei eu a encolher-me pelos cantos do mundo mais pequeno que já conheci e arrastar-te grudado ao suor do meu corpo para a superfície ensolarada. escorregadio é o medo que te leva e me puxa contigo ao abismo da inexistência cobrindo-me com manto da invisibilidade.de olhos abertos para a janela que escancara as estradas de luz e relvas perfumadas anulo-me no silêncio do consentimento e espero.

01 março, 2018

escrevo palavras que empatam na minha memória.palavras das quais nem sempre lembro seus nomes.nao se pode lembrar de tudo.escrevo palavras que são grãos de areia em minha boca. transformá-las em substâncias agradáveis como o néctar das flores para as borboletas, ou como a água que corre cristalina por entre as pedras e acomoda os grãos de areia em seu leito para que repousam no silêncio de sua música não é uma tarefa muito fácil.as palavras são grãos de areia em minha boca, como estes que entram em meus sapatos.lâmina que corta afiada a ponta dos dedos e da língua. desbravar caminhos solitários na amplidão da jornada quando não se tem o equilíbrio necessário para lidar com os buracos é algo cansativo. tendencioso para achar a tarefa no mínimo vã. quisera ao longo do caminho atingir a alma das pedras.



Março
eis que me chega março com suas longas pernas
carregado de saudade e desesperança
atravessar o mar de março no dilúvio das águas sem um abraço
não é coisa que se faça sem sentir dor
não sou muito dada a essas bravuras
o tempo madraço no mormaço corre lento no mês de março
é preciso afago nas horas cansadas e sonolentas
é preciso afago na fila dispendiosa e penosa do mercado
para uma paz no meu peito é preciso abraço no mês de março

13 janeiro, 2018

foi só botar o pé na estrada
e ousa florir pelas minhas costas

fechei meus olhos a ti
larguei te a tua própria sorte
porque eras teimoso e cheio de defeitos
unia se à toda sorte de desgraça e intérperies
a ponto de me aborrecer com suas provocações
hoje te cobre de lilases num manto quase que celestial
meus olhos já não te alcançam