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23 setembro, 2009

Capengando


ando catando palavras

capengas

que escreva essa vida arenga

em todo canto

a mesma lengalenga

na estrada mais torta

que a vida torta

rejeito o áspide

da tirania

a espicaçar

meu dia a dia

venero a noite e o luar

e as estrelas a me acariciar

21 setembro, 2009

Alvo


não sigo
espero

sigo por estrada nenhuma e
sinto que estou preste a chegar

espero
nessa vida
que não é minha
vida de muitos

vagueio
por vielas escuras,
atalhos...
ando a espreita

tenho a alma em festa
uma felicidade que não sei
nem de onde vem

fico de tocaia
ela vem de lá
de longe

longe
que já vislumbra
no horizonte

sinto que falta pouco
mantenho m`alma em festa

11 setembro, 2009

Memória

Dona Jorgina
benzedeira
tinha um sol na boca
que escancarava luminosidade

Cheia de chamego
com o seu Dego
rapazinho feito
tomava leite com café
na mamadeira
escondido embaixo da toalha de plástico xadrez
que cobria a mesa de madeira crua
encardida pelo tempo e gordura

No fogão a lenha
caçava as brasas acesas
para benzer um quebranto

... Não sei onde deixei minhas

chaves

02 setembro, 2009

Janela

“Menina, não pula a janela!
Quem pula a janela vira ladrão.”

amava àquela janela
peitoril largo
podia sentar-me
recostada no batente
e ver ali passar toda a gente
cachorro
cavalo
e até a boiada

quando me tiravam de lá
deitava-me no chão da sala
e olhava o movimento
que refletia no espelho do retrato
as sombras em miniaturas
parecia fita de cinema

hoje não tem gente
não tem bicho
ou movimento
na janela sem parapeito
sentada na ponta do leito
a vida passa vazia