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27 dezembro, 2010

Aquarela

Fonte: http://www.flickr.com/photos/rahmorales/
Dos tempos idos, nada permanece
uma vaga lembrança de um ser
que já não reconheço
recomeço

Todos os dias eu abro a janela
e na tela concretamente vazia
pinto o meu dia

Com cores escolhidas a dedo
eu pinto a tela
pinto nela coisas a meu bel prazer
pinto e canto

Há dias, porém, em que sombras do passado
e o futuro obscuro, numa tarde de chuva fria
torna a paisagem sombria

Nesse dia não saio
encosto a maçã do rosto no batente da janela
e deixo-me invadir  pela paisagem
misturo-me numa fusão de chuva e lágrimas
espero...

25 dezembro, 2010

Fatalidade

já é hora
a folha caí

existe a folha
não mais na árvore

                                no chão

juntou-se igual
a multidão
de folha secas

                               no chão

23 dezembro, 2010

Arrastando correntes

ideias só minhas
em palavras
jamais  dita

medo
hipocrisia

salve-me
o verbo
torna-me
maldita

21 dezembro, 2010

Sem poesia

 
do lamaçal escorregadio
os versos em desafio
tentam emergir, vir à tona

mas chove e faz frio
minha poesia amada
já resistiu trovoada,
raios e vendavais

hoje já não quer mais
rasgar o verbo, sangrar palavras
escrever a dor de um poeta
que se trancou na escuridão
fechou portas à ilusão

17 dezembro, 2010

Virada cultural 2009

encostei meu ouvido na boca do poeta
de enorme língua azul
que soprava mansos versos de carícias
no fundo m!alma

"o pássaro azul está preste a pousar
no vazio de suas mãos
de que maneira senão na ausência...”

num vôo meio que distraído
esbarrei em algumas acrobacias
em pleno ar

num vôo alto e certeiro
descansei meu coração
 no galho da romãzeira
enquanto, a “doce solidão”
gritava em meio à multidão

num errante e alucinado vôo
aterrissei  m!alma
entre cacos e navalhas
e fui dormir na cama alheia

16 dezembro, 2010

Poema besta







desnuda m`alma
que tenta avidamente                                              
parecer saudável

enferma
pelos males da vida

solitária
               e       perdida

veste-se de cetim
salto alto
lantejoulas
maquiagem
e afins

14 dezembro, 2010

O poema


há palavras
acenando-me
como roupas no varal

há palavras
dormindo comigo
embaixo do travesseiro


perturbam
o meu sono
entram
pelos meus ouvidos
cutucam
o meu ego
gritam
no meu pesadelo

há palavras
no tapete
embaixo do meu chinelo
gemendo,
gemendo
querendo sair

há palavras
nas conversas
inversas
na contra mão

as palavras
esperam,
anseiam
que eu rompa
o silêncio
e deite
no próximo vazio
o poema


13 dezembro, 2010

Teus olhos

o mesmo mar
que outrora depositei
ao sabor da ondas,
meu barquinho de papel
carregando meus sonhos
e os teus
navegando ao léu
nas águas claras e cristalinas
sob um sol adolescente e
nuvens inocentes

esse mesmo mar de outrora
revejo agora na viúva noite
sob densas nuvens anciãs

você segue sozinho
no nosso barquinho
para o sol da manhã

sem sonho, sem voz,
na praia fico a deriva
com meu algoz

Ah! Teus olhos
tem a mesma imensidão
do mar antes navegado

12 dezembro, 2010

Sinestésico

No céu da boca (sempre aberta)
tão cinza como a platina do meu dente
passeiam nuvens azuis (de olhos fechados
e bochechas gordas)

No céu da boca o beijo engoliu as palavras
                                                adormeceu....

O silencio ficou tão alto feito zumbido
de Aedes Aegypti no ouvido
numa manhã azul de domingo vermelho

05 dezembro, 2010

A galope

adio coisas para depois da chuva
tento sonhar colorido
alimento minha alma
com musica e poesia

o tempo passa
levando meus sonhos
na garupa

03 dezembro, 2010


empilhei as palavras
acomodei-as no meu peito
petrifiquei

é só um peso
um pesar
que não dói

pedra resoluta
armadura de defesa
morte ao incauto

morto
já não vejo a flor
nem ouço os passos da vizinha na escada

morto
não morro de amor
não choro a perda da mulher amada

morto
já não sinto dor
não vejo a criança na calçada

morto
não vejo
não escuto
e sobretudo
não sinto

morto
não escrevo no blog ...
já não sou poeta
e mais nada