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26 dezembro, 2009

Rimbaud - tuas vogais e as minhas

meu A não é negro, e sim, vermelho
boca caliente, língua salivante
cereja entre os dentes

o E pode ser branco; pequena sintonia ?
lanças de gelo buscando pela luz do sol
uma empatia em nossa sinestesia?

I é prata, foge do sangue
grita feliz no fio da navalha

meu U, sim, é negro como o Urubu
do seu verde - só rouba do L a luz

e O azul do seu O/lho
é a transparência do meu


Vogais - Arthur Rimbaud


A negro, E branco, I vermelho, U verde, O azul; vogais
Direi algum dia de vossos nascimentos ocultos
A, negro espartilho peludo das moscas tumultos
Rondando fedores cruéis demais,

Golfos de sombra; E, candura de vapor e de tenda,
Lanças de geleiras altivas, reis brancos, tremos de umbelas
I, púrpuras, sangue cuspido, riso dos lábios belos
Na cólera ou na embriaguez oferenda;

U, ciclos, vibrações divinas do verde mar,
Paz dos pastos semeados de animais, paz das rugas
Que a alquimia imprime na fronte a estudar;

O supremo clarim pleno de estranhos agudos
Silêncios cruzados por anjos e mundos:
- Ô, o ômega, raio violeta de Seus Olhos!