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29 setembro, 2011

Tudo inútil


guardar segredos
que andam de boca em boca
engolir seco
a resposta mal dada
chorar sonhos
perdidos no tempo
sustentar a fulminação
de teus olhos

pra que sofrer
se nada é pra sempre,
tudo tão inútil

distraio-me a olhar o universo
a singela flor que me encanta
o bem–te–vi que me saúda toda manhã
naquela praça
bem-te-vi, bem-te-vi

e o outro naquela igreja mais adiante
bem-te-vi, bem-te-vi

                                                logo mais terei o sol a me aquecer...

27 setembro, 2011

Labor


Sento
olho a chuva através da vidraça
o ritmo da sala é frenético
as conversas, as crianças,
a máquina de costura...

Pensativa
não me concentro em nada que valha a pena
vez ou outra um grito, um choro infantil
ando meio consternada com a falta de emoção

Saio
na porta escancarada, que dá para o pátio,
apoio-me sobre os joelhos
ouço o som da música vindo da cozinha
sinto o cheiro de grandes braços verdes
estendidos ao firmamento
respiro o oxigênio que exalam
a chuva que bate no chão
respinga no meu rosto
isso melhora um pouco
os olhos umedecem 

25 setembro, 2011


pingo no tempo
nunca tenho os pés no chão
uma questão de sobrevivência 

22 setembro, 2011

Avesso

outro sonho tolhido
não teve a sorte do ócio
teus sonhos morrem meninos
tudo parece oco
flutuando  sem gravidade
não tem força que te mova
ficas assim sem vontade


assim sem gosto
sem cor , sem perfume
sem flor... sem fervor
 só a dor de um viver contrariado


a coluna curva na labuta
de uma luta desigual
só o cansaço e o sono iminente
faz-lhe deixar de pensar em
não mais querer ser gente


o sorriso não floresce
nos olhos, a cor da morte
tua face enrudece
 não é quem eu conheci
tu és o avesso de ti

19 setembro, 2011

Saudades da infância


os cavalos que meu pai tinha às mãos
eram dos filhos do patrão
a mim parece-me que sobrou
só a sujeira do chão
casa de chão batido
e de coração partindo

partindo em busca da cidade
de teatros e de felicidade                                                    
deixei para trás a natureza
hoje sinto saudades

saudades de um tempo nobre
em que fome eu não passava
tinha tudo à minha mão
laranjas, peras, jabuticabas
o leite; a vaca dava

das laranjeiras tenho saudades
da minha mãe no alto do pé
a catar laranjas por no saco
e depois cair de pé

chupar laranja era um prazer
que fazíamos em conjunto
a mãe fazia-nos trazer
pra perto dela; todos juntos

tinha tudo naquele lugar
sol, água, terra e luar
lá deixei minha infância.
mas, cá deixei de ser criança    

15 setembro, 2011

Bradicardia


clinicamente bradi,
emocionalmente brando
meu velho e cansado bradi
meu desiludido brando

meu bradi e brando coração
vou marcar-passo da nossa canção
diminuir o compasso da emoção

vamos devagar, mas não quero parar
ainda quero pela manhã fazer café
 ler Herman Hesse dentro da catedral da Sé

retornar a Colônia do Sapo
fazer serenata pra lua
com os amigos bater um papo
nas águas do Retiro nadar nua

você não era assim
foi sobrecarga de dor?
quero viver um novo
 e grande amor
bradi, branda... Dor

14 setembro, 2011

Poesia do momento


instante mágico
em que você me deu bom dia
paramos um pouco a nos falar
coisas à toa, sem valia
enquanto teus olhos me corriam
enquanto eu te sorria
enquanto um imã nos atraia

sustentar teu olhar já não podia
instante mágico de pura poesia
quebrado pela razão que chefia a emoção
mas que ficou gravado feito fotografia
que olhei o dia todo
porque nesse dia
só teu rosto eu via

12 setembro, 2011


depois do nada
suas lágrimas         
voou rasante
e tocou meu coração

rasgou da alma
a pálida pele
deixou em mim
a lembrança de ser


11 setembro, 2011

Duras palavras


com a saliva
grossa do enxofre
alimenta seus anjos

na chama viva
queima e sofre
as perdas e danos

02 setembro, 2011

São Paulo

morava onde o tempo
dava pra tudo
inda bastava pra nada

onde o sol enchia o dia
e ditava as horas

aqui e agora
onde o dia emenda à noite

tudo e nada
é a mesma coisa
solidão