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29 agosto, 2010

Tormenta


cavalgar a noite toda 
em um cavalo selvagem
que pinoteia pra todos os lados
dilacera seu corpo
estoura suas artérias
deixa os nervos esfrangalhados

desejar planar num cavalo alado
suave, leve tal como o sopro da brisa
deixar o ar passar sorrateiro, calado

desejo vão
você é um náufrago
num mar de tormentas
turbilhões de ondas
jogam-no pra todos os lados
totalmente desgovernado

feito uma centrífuga fora do prumo
você não encontra rumo
desatinado, enlouquecido
meu medo é se dar por vencido

desejar a calma do riacho
que nunca sobe, só desce
em suas águas serenas
deslizar suas feridas

desejo vão
reprimido contra o colchão
adormece

vira
revira
acorda
adormece

acorda
é um tamborilar constate
debate-se contra as paredes
quer sair pela boca
rouba-me o ar

vira
revira
acorda
adormece
sem saber se verá 
o dia que amanhece...

22 agosto, 2010

Um dia à toa

Um dia vou arrumar minha casa
essa que moro só
um vasto cômodo vazio
um dia quando estiver só, à toa
por ora, arrumo a nossa

Jaz um tênis no meio da sala
cuecas no banheiro,
em cima do sofá uma mala
minha nossa

Louça na pia
barriga vazia
no telefone
a tia
o gato mia
a vizinha espia
a panela chia
quero alforria

Um filho chama
o outro reclama
caramba

Poeira no chão
um corte na mão
a fome aperta
todos alerta
querem comer

Mais louça na pia...

Roupa no varal
água no quintal
boca seca

Tudo arrumado
lençol perfumado
e a cama vazia

Pelas fissuras do meu coração
entram os últimos raios de luz
onde partículas de poeira
dançam a última canção
desce o breu da noite,
nada mais reluz

07 agosto, 2010

Agosto

abraça-me
o sol

beija-me
a brisa

pus um sorriso
no rosto

hoje o dia
definiu-se
ao meu gosto