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15 dezembro, 2015

não faço nenhuma busca desmedida
instalo me no conforto prático
das imagens instantâneas
nada que machuque o coração
por mais de um segundo
o mau está instaurado
sofro de abstinência poética 

27 agosto, 2015

fechado pra balanço

nada mais cabe em mim
por esses dias de tempo infinito
onde a ausência estica a dor da alma
e o coração no peito aumenta
o  encurtamento do ar

o que dizer de minha partida
levo na mochila
somente a vida
cética


cismo
silêncio

24 agosto, 2015

amo-te inutilmente
desnecessariamente
sem esperar gozo ou
prazer

amo-te apenas
sabendo circunstancialmente
do desamor causado pela negativa
de doar a minha vida

amo-te nas horas vagas do meu celular
mesmo que este amor me sufoque o peito
me roube o ar

amo-te nas horas ocupadas
e nada espero em ti
nem mesmo que saiba 
dessa loucura de amar
sem esperar
 

15 agosto, 2015

venta lá fora
e a trovoada está em mim
eu cantaria uma canção agora
mas há tempos
roubaram meu violão
que diferença isso faz
os sonhos já haviam partido



sobre como distrair o tempo e a mente

eu já havia me desvencilhado das carreiras de cadeiras apertadas
e estava em pé quando a senha 318 piscou no painel
sentei me rapidamente na cadeira a sua frente e disse: oi
o rapaz respondeu com uma leve irritação pois mal teve tempo de consultar o seu facebook
a medida que desvia o seu celular para debaixo da mesa
seu semblante vai suavizando
apoio o queixo, sobre a mesa, em minha mão
mas desço depressa o braço para esconder os arranhões
ele imaginaria tudo, menos que foram feitos  pelo meu pé de laranja lima
que, aliás, está todo florido
entrego-lhe meu R.G. e digo a que vim
após duas ou três perguntas ele localiza o meu cadastro
imprimi alguns papeis e pede para eu assinar a solicitação
depois me entrega uma folha e diz:
daqui a noventa dias, senhora
eu digo: noventa dias?
ele: noventa dias, retira aqui mesmo
eu: está bem. noventa dias e retiro aqui. obrigada
ele sorri e eu penso: é justo, eu esperei duas horas somente para fazer a solicitação
ainda bem que a oitava de Brukner dura  mais que uma hora
terminada a sinfonia
o pensamento, nessa brecha maior, tenta voar para longe
" o amor é um cão dos diabos"
e agora  é Bukowski que prende me em seus poemas
não é a toa que estou escrevendo assim
só não esperava encontrar a padaria fechada

24 julho, 2015

na urgência de uma esperança
que me tirasse desse "no sense"
desejei deixar de não ser ninguém
permiti essa invasão clandestina
na minha constante solidão
o prazer irrefutável
que não perdurou
                                                                   descentralizou-me

                             na ordem das coisas

perdi-me tão somente....



                                                                                                

22 julho, 2015

ainda ontem o ódio obscuro ondula
onde ostentar o amor
ainda hoje hábil habita
e amanhã
ainda

20 junho, 2015

uma dor e um medo
que se camuflam
por um amor inventado
há uma dor e um medo
que surdina na solidão silenciosa
da madrugada
circula o ventre
aumenta o peito em taquicardias

um sentimento
uma dor
um medo

um momento
um amor
um segredo

um medo instaurado
em circundante dor
como vento
que sopra tornados
e aglutina em meu ventre

15 maio, 2015

depois que comprei o abajur amarelo
nunca mais saí de casa
a luz branca no abajur amarelo
clareia a casa toda

minha mãe não tá mais aqui
um dos meninos veio no portão 
e trouxe umas bananas
mandou comer amassada
perdi os dentes dentro de casa

mãezinha não tá mais aqui
morreu dentro de casa
a luz branca queimou
eu não num importo
perdi as vistas dentro de casa

25 janeiro, 2015

no silêncio habitado por lesmas e lagartas
espero o ruflar das asas das borboletas
enquanto atiro caracóis no asfalto

12 janeiro, 2015

atrasada
o tempo corre tão rápido
quanto as águas do banho

distraida
uso shampoo novamente
em vez de condicionador

desesperada
a espuma se avoluma
e embaraça os fios

frustada
na economia de água e
esse sabão que não acaba

impossível
 deter o tempo
e as águas

09 janeiro, 2015

Discrepância

sob as flores do resedá
á margem da avenida
fiz minha cama

faço inveja aos olhos
 que passam de trem
do outro lado da rua

passam querendo ficar
sob as flores do resedá
de pele e alma nua

mal sabem que a noite
ele faz  morada
ao frio e a fome