
boca caliente, língua salivante
cereja entre os dentes
o E pode ser branco; pequena sintonia ?
lanças de gelo buscando pela luz do sol
uma empatia em nossa sinestesia?
I é prata, foge do sangue
grita feliz no fio da navalha
meu U, sim, é negro como o Urubu
do seu verde - só rouba do L a luz
e O azul do seu O/lho
é a transparência do meu
Vogais - Arthur Rimbaud
A negro, E branco, I vermelho, U verde, O azul; vogais
Direi algum dia de vossos nascimentos ocultos
A, negro espartilho peludo das moscas tumultos
Rondando fedores cruéis demais,
Golfos de sombra; E, candura de vapor e de tenda,
Lanças de geleiras altivas, reis brancos, tremos de umbelas
I, púrpuras, sangue cuspido, riso dos lábios belos
Na cólera ou na embriaguez oferenda;
U, ciclos, vibrações divinas do verde mar,
Paz dos pastos semeados de animais, paz das rugas
Que a alquimia imprime na fronte a estudar;
O supremo clarim pleno de estranhos agudos
Silêncios cruzados por anjos e mundos:
- Ô, o ômega, raio violeta de Seus Olhos!